quinta-feira, 18 de junho de 2009

Jesse and Celine


Gostaria de falar sobre dois filmes que realmente amo. Não sou muito fã de continuações (ok, há excelentes exceções), mas nunca fiquei confabulando tanto o que aconteceu depois da despedida deles em Viena e o Linklater nos agraciou com duas OPs (obra-primas): Antes do amanhecer (Before sunrise) e Antes do Pôr do Sol (Before sunset). Como já tinha escrito algo sobre os dois após ver o segundo filme, resolvi trazer do meu antigo blog este texto abaixo datado em 25 de novembro de 2004.



HOLA!


O que seriam dos romances sem a química do casal, sua sintonia, cumplicidade e claro seus beijos, seus gestos de carinhos, seus olhares, ciuminho bobo, briguinhas, lágrimas, diálogos inspirados... Antes de começar o meu texto, resolvi fazer uma homenagem aos beijos que encantaram multidões nos cinemas.

Como adoramos torcer por casais apaixonados... Não importa sua opção sexual, o importante é amar e ser amado. Lembro-me de que até torci por um romance nada convencional entre a Natalie Portman e o Timothy Hutton no bacaninha Beautiful Girls, infelizmente não vingou, já que o saudoso Ted Demme foi mais moralista que eu.

Vocês sabiam que o primeiro filme que teve uma cena de beijo se chama, de forma nada criativa, The Kiss e foi realizado em 1896? Sabiam também que a Vivian Leigh detestava beijar o Clark Gable em E o vento levou devido a seu mau hálito insuportável?




Sabiam que o beijo mais longo do cinema foi dado pelo casal Jane Wyman e Regis Toomey no filme You're in the Army Now (1941) e durou três minutos e cinco segundos? Sabiam que fizeram um ranking para os melhores beijos da história do cinema e quem ganhou foi o singelo beijo da animação A Bela Adormecida? Sabiam também que o recorde de beijos em um só filme pertence ao ator americano John Barrymore que "lascou" 127 beijinhos nas atrizes Mary Astor e Estelle Taylor em 1927 no filme Don Juan (Difícil saber quem era seu personagem, não é?). Como diz a canção clássica de Casablanca "A kiss is still a kiss/(...) The fundamental things apply as time goes by..."






















Eu tentei, juro que tentei, desvincular de uma forma direta (indireta é impossível!) esse blog da minha pessoa. Eu sei que se alguém me conhece um pouco melhor vai encontrar inseridos nos textos um pouco de Karinne ali, um pouco de mim acolá. E é justamente agora que quero comentar sobre o belíssimo filme ANTES DO PÔR-DO-SOL, é quase que impossível escrever algo sem que confidencie algo mais íntimo e pessoal. Aquela cena lembra um certo namorado, aqueles diálogos tão conhecidos, certas neuroses peculiares a uma certa garota...

Em um ano fraco para o cinema (pelo menos até o exato momento), onde a maioria das exceções foi exibida antes da cerimônia do Oscar, é salutar percebermos uma guinada maravilhosa em um gênero fadado a ser contra-indicado para diabéticos.

Se você está entre 12 e 16 anos e se é uma garota, indubitavelmente se lhe perguntarem qual seu estilo de filme predileto, dirá sem titubear: R-O-M-A-N-C-E.

Entretanto nunca fui uma adolescente padronizada. Enquanto as garotas eram vidradas no Tom Cruise (não que não fosse rss), C. Thomas Howell, Rob Lowe e outros galãs oitentistas, preferia o olhar enigmático do Yul Brynner e os olhos azuis e o sorriso estonteante (ai, esse é meu ponto fraco, arrebenta-me...) do Paul Newman, que segundo meu ponto de vista, é o homem mais belo que já vi!!




Enquanto as meninas da minha geração veneravam o romance entre John Travolta e Olivia Newton-John em Grease, encantava-me mais com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman no inesquecível e atemporal Casablanca. Sempre fui diferente, não encaixava na regra geral, era rotulada de excêntrica, com gostos duvidosos, pseudo-intelectualóide...

Sou do partido GOSTO DE FILMES BONS, uma vez que não escolho por gêneros, mas pela qualidade da história que nos é contada. O romance ultrapassa as barreiras dos gêneros, está inserido tanto na comédia, no drama, na ficção científica, no western, ou seja, faz parte de todas as histórias de nossas vidas. O que seríamos sem amores para viver e contar?

Esse ano nos encantamos com o intimista Encontros e Desencontros, surpreendi-me com o belo Diário de uma paixão e declarei meu amor a Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Até Kill Bill é, no fundo, uma história de amor. E no início deste mês percebi que algumas continuações podem nos tocar até mais do que imaginamos ou mais que o filme que lhe deu origem.





Há alguns anos, tive o prazer de vasculhar a prateleira da minha locadora e pegar um filme totalmente desconhecido, entretanto ao ler a sinopse, encantei-me imediatamente. Se a premissa já era interessante, durante a projeção vi que não era um filme qualquer, um romancezinho corriqueiro e banal, não se baseava em ação com adrenalina mesclada com tensão sexual, muito menos com jovens fúteis e estúpidos e a figura folclórica do garoto(a) tímido(a) que vive um amor não correspondido e que depois de idas e voltas, finalmente consegue seu lugar ao sol. Adversamente, Antes do Amanhecer era sensível, mostrava que podemos nos apaixonar apenas ao conversar, sem efeitos especiais ou fantoches perfeitinhos por detrás.





Uma das cenas que mais me fez chorar foi a última visão dos lugares que Jesse e Celine passaram durante aquela noite em Viena. Que saudade absurda... Não queria me separar daqueles que se tornaram tão próximos de mim, vivenciei a química absurda descoberta ocasionalmente em um trem, a aceitação impulsiva e meio louca da proposta de passar uma noite a esmo em Viena, a admiração mútua, a sintonia, o amor e a paixão nascidos e o sofrimento iminente da despedida. Cada hora vivenciada juntos é esfuziante, contanto dilacerante pelo tempo que mingua..




Quando vi o filme pela primeira vez, era ridicularmente romântica. Idealizava amores, mantinha a mesma mania de amar unilateralmente (sou fiel aos meus conceitos rss) e sofria tanto com um olhar desviado... E aquele conto de fadas acertou em cheio um coração tão facilmente manipulável.




Como é delicioso o processo de enamorar, como todas as coisas ao redor se tornam mais belas, mais saborosas, os problemas mais facilmente contornados, sorrisos estampados nas faces... Celine tentando desviar o olhar de Jesse enquanto ouvem uma música em uma cabine, a súbita timidez que empera nos amantes. Os dialógos são tão fortes e tão próximos do nosso cotidiano, são tantos memoráveis que citar um ou outro seria terrivelmente injusto.




Lembram do conceito dado por Jesse sobre almas gêmeas: de que somos parte de uma mesma pessoa do passado. Será? E ela que se sente uma velha contrapondo-se a ele e que no momento que se beijaram no carrossel era uma velha de 83 anos beijando um garoto... As idealizações amorosas, o porquê das imperfeições humanas, o amigo imaginário, o poema, o diálogo no telefone, na cabine, são tantos...




Em especial, há um diálogo já perto da despedida que me tocou bastante. Ela está deitada no colo dele e diz que seria sim capaz de amanhecer todos os dias com ele, de ouvir as mesmas conversas, de descobrir a roupa que ele iria vestir, e que no dia que tivesse isso com alguém, saberia que aquilo é amor.




E aquelas paisagens belíssimas? Acompanhamo-nos pelas ruas, becos e vielas de Viena e o filme discorda de Celine quando ela afirma que nos quadros os ambientes são mais importantes que as pessoas que aparecem desfocadas, aqui quando vemos os lugares que eles passaram sem ambos, a tristeza e melancolia são pungentes. Estava a partir daí orfã...




No final, divagamos o que teria acontecido com o casal... Voltaram a se reencontrar seis meses depois? Será que o americano Jesse e a francesa Celine ultrapassaram todos os empecilhos e finalmente ficaram juntos? Naquela despedida agoniante, sobrenomes não foram ditos, não trocaram telefones, somente o pacto de voltar a se verem após seis meses em Viena. É isso e muito mais que ANTES DO PÔR-DO-SOL tenta nos responder.





Nove anos se passaram tanto para eles como para nós. Não possuem mais o frescor da juventude e isso não só é perceptível pelo processo natural de envelhecimento físico (impressionante como estão raquíticos e não tão mais belos), mas também pelo amadurecimento de seus personagens. Jesse agora é um escritor famoso fazendo a divulgação de seu livro em Paris. Enquanto tenta se desvencilhar das indagações dos jornalistas a respeito do seu livro ser ou não autobiográfico, ele vislumbra a imagem que tanto queria ver seis meses depois que partiu de Viena. Celine sabia de sua passagem em Paris e resolveu vê-lo. É nesse reencontro que novamente percebemos a interação natural entre os atores, será que eles não se amam na vida real? Ambos não conseguem conter a emoção apenas com o olhar.




De forma oposta a Antes do amanhecer, aqui somos apresentados inicialmente a todas belas paisagens parisienses em que Jesse e Celine irão passar, dando-nos uma sensação de expectativa e ansiedade. Novamente o amor luta contra o tempo, além da perda da cumplicidade. A separação novamente é iminente. Como recuperar em poucas horas a intimidade perdida? As conversas evoluem, mas o constrangimento é notório quando ele a coloca no colo, percebemos que o contato físico os perturba.





Enquanto no primeiro filme, somos apresentados a um Jesse mais cético, retraído, aqui o vemos desapontado, mas que não mede esforços em se expor, colocando literamente seu coração nas mãos de Celine. Já ela encontra-se retraída, insegura, reticente, já que suas relações foram todas frustrantes e apáticas. Ademais está temerosa por imaginar que Jesse esteja feliz e realizado com o casamento e o filho. Seu comportamento está explícito quando ela fala que a memória é uma coisa boa quando não temos que lidar com o passado.





Realizado em longos planos, em tempo real, Richard Linklater acerta novamente não só na sua direção primorosa e segura como no roteiro cheio de simbolismos, com diálogos inspirados, inteligentes que variam de frivolidades até assuntos mais sérios como política, profissão, diferenças culturais, além de versar sobre frustrações, lamentações, conquistas, amores e desamores e obviamente sobre aquela noite em Viena.




Os filmes do Linklater já vêm com selo de alta qualidade, deliciosos de se assistir. Escola de rock, Waking life e os dois filmes em questão são inteligentes, sabem entreter com qualidade, sem ofender nossos neurônios e nos faz pensar, refletir, sorrir, chorar... E o que torna esta película ainda mais verossímil é o fato dos próprios protagonistas, Ethan Hawke e Julie Delpy, serem co-roteiristas dessa inesquecível história de amor.





A cada minuto que se esvai, aquela sensação de despedida nos aflige novamente. A nossa identificação é imediata: somos Jesse, somos Celine, eles são um pouco de cada um de nós.





Interessante é perceber que pela ótica do amor até conseguimos ver beleza em locais comuns, como os olhamos de forma diferente tal como a cena do barco. E continuamos loucos para que o maldito tempo páre, dê uma trégua para que eles se acertem, mas a agonia é cada vez maior, o temor da despedida e a falta de perspectiva de um novo encontro fazem as máscaras caírem.

Jesse mantém uma vida cômoda e enfadonha e fez o livro numa medida desesperada de reencontrar Celine. Ela finalmente expõe seus sentimentos ao mostrar sua revolta após ler o livro, por constatar que não consegue amar, por viver uma vida de comparações, porque eles continuam a amar a idealização de ambos naquela noite em Viena e o que resta é decepcionante.

O reencontro entre os dois representa uma viagem de volta à juventude quando acreditavam no amor, nas pessoas, na felicidade. Juntos sentem-se vivos novamente. Não é apenas um filme para românticos, mas também para os céticos que, alguma vez em suas vidas, já amaram.




A cena em que ela tenta tocá-lo no carro e o momento em que eles sobem, silenciosamente, as escadas valem mais que muitas cenas de beijo ou de sexo que infestam o gênero, uma vez que é de uma sensibilidade singular, de uma tensão emocional absurda e fez com que eu entremeasse risos e lágrimas compulsivamente durante a sessão.






Mais lágrimas foram jorradas quando Celine toca sua valsinha, A Waltz for a night, umas das mais belas declarações de amor proferidas no cinema. E o final em aberto não poderia ser melhor, nada convencional, é tão real que cabe a nós imaginar o que acontecerá. O momento da despedida é tantas vezes adiado que para nós pode ser para sempre... Ao som de Nina Simone, o último diálogo... "Celine: Baby, you're gonna miss that plane. Jesse: I know". Uma coisa é certa: eu também perderia aquele voo...





Esse filme me fez repensar sobre certas atitudes e opiniões atuais, o filme pôs em cheque toda a minha ladainha incansável e irritante, já que a conexão entre Jesse e Celine desafia o tempo, o espaço, as diferenças. Lembrei-me da Karinne ridicularmente romântica de anos atrás, as marcas do tempo não eram só físicas... Agora estou a fim de voar, sair da defensiva, porque amar pode nos fazer sofrer e que nem sempre o sentimento será recíproco... Mas que nunca, nunca mesmo, podemos desistir de tentar.


Música do dia:



A Waltz For a Night
(Julie Delpy)

Let me sing you a waltz
Out of nowhere, out of my thoughts
Let me sing you a waltz
About this one night stand

You were for me that night
Everything I always dreamt of in life
But now you're gone
You are far gone
All the way to your island of rain

It was for you just a one night thing
But you were much more to me
Just so you know

I hear rumors about you
About all the bad things you do
But when we were together alone
You didn't seem like a player at all

I don't care what they say
I know what you meant for me that day
I just wanted another try
I just wanted another night
Even if it doesn't seem quite right
You meant for me much more
Than anyone I've met before

One single night with you little Jesse
Is worth a thousand with anybody

I have no bitterness, my sweet
I'll never forget this one night thing
Even tomorrow, another arms
My heart will stay yours until I die

Let me sing you a waltz
Out of nowhere, out of my blues
Let me sing you a waltz
About this lovely one night stand



HASTA!


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